domingo, 5 de fevereiro de 2012

Apego


"É cedo pra dizer, ou tarde demais pra fugir. Talvez você seja um cachorro-cínico-egoísta apenas sendo gentil-romântico-atencioso só pra me enganar na sua cama. Mas se não for você, será outro qualquer. Melhor que seja você.
[...] Não precisa dizer nada, só não me deixe faltar aqueles abraços silenciosos pra calar a boca de quem me mandou ter calma contigo. Agora que eu me perdi, só preciso de você me dizendo que amanhã ainda vou te achar no mesmo lugar, se eu procurar. Eu te quero, na medida do impossível.
Pega no meu queixo e diz que não sou só eu que sinto medo aqui. Faça alguma coisa ruim, qualquer coisa que me impeça imediatamente de sentir esse amor absurdo por você. Estou nas suas mãos e isso não é uma metáfora. Porque eu já não sei mais nada. Parece que sou mesmo seu foco de vida, mas também pode ser que você ande apenas distraído do resto do mundo. Ou, vai que você tá mesmo certo, as coisas são assim mesmo, o amor invade pela boca enquanto a gente se olha e fica rindo."

domingo, 18 de dezembro de 2011


Disparo contra o sol.
Sou forte, sou por acaso.(8)


Perdi o jeito. É, o jeito. Não sei mais como começar e terminar textos, perdi aquelas frases prontas e impactantes que fechavam o texto ‘em grande estilo’. O pior é que continua todo o resto aqui, perdido, misturado, bagunçado da minha cabeça.
Já escrevi, apaguei, reescrevi, voltei a escrevi vários começos e nada. Não é uma sensação de vazio, é uma sensação de que não tenho nada pra falar, entende? Nada de importante. Não que antes eu tinha, mas é que.

Sei lá!

A chuva começou e eu nem percebi. Às vezes sinto que a vida começou e eu continuo sentada esperando o prêmio da mega, ou um presente qualquer. Algo que caia do céu. Nada me irrita mais do que essa minha passividade, essa falta do ‘ir em frente’.

Ando cansada das minhas variações.

Às vezes parece que a vida está com uma 38 apontada na minha cara e gritando, perguntando o que eu quero com ela. E eu não faço a mínima idéia. Algumas pessoas vivem um dia de cada vez, ando vivendo meio e saindo cansada no fim da tarde. As pessoas possuem sonhos, metas e uma profissão. Eu só quero acordar bem menos assustada que ontem. Crescer é assustador.

Tudo é duro e fere.

Mas ao mesmo tempo. Esquece, é isso. Esquece. Ninguém vai te ver diferente por ter medo de não ter como pagar as contas, afinal todo mundo tem contas a pagar. É que me deu uma saudade besta de acreditar que viver poderia ser fácil. Só isso.
A chuva parou, a noite está indo embora e eu não faço idéia de como acabar esse texto.

Hoje eu sou por acaso.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vista cansada




Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.


Otto Lara Resende


Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011






Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum,
o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas.
Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação.

Caio Fernando Abreu









Era essa minha realidade – conflito. Na verdade ainda é. Ainda existe aquela vontade boba de não continuar. Não aqui, desse jeito torto que ando levando. Eu inventei meus próprios fantasmas, destruí meus castelos e minhas bonecas, vesti um macacão e desejei aprender a jogar bola. Esse era minha forma de ser forte, livre, e até um pouco eu.






Deixei de lado os vestidos, os bons modos e a delicadeza, pra esconder de mim que ainda doía todos os becos e poços que a vida cava. Pra ser mais sincera, me lembro perfeitamente do dia que tomei essa decisão, aos 5 anos, quando por uma brincadeira tola um amigo me empurra da escada e com toda minha coragem de vida decidi quebrar o nariz dele. E consegui. Depois daquele dia, os papagaios, o futebol e os carrinhos eram mais interessantes. Mesmo comendo ração pelos próximos dois anos, por manipulação da minha irmã, me considerava a criança mais livre da escola toda.







Criei com o tempo um muro de Berlim entre eu e as pessoas. Isso parece clichê, e vai ser, e é clichê, mas tudo bem. Tinha medo das pessoas, do que elas pensariam, falariam, se falariam. Tinha medo de ser vista, de não ser vista. Vergonha das minhas orelhas, pé, e estômago. Essas visões burras que temos da vida.







Levou tempo pra parar de doer, pra parar de sangrar as feridas do dia-a-dia, levou tempo pra esquecer os tapas de quem deveria me proteger, a brutalidade de quem deveria fazer carinho, pra parar de delegar obrigações e deveres para as pessoas, e o silêncio, o meu silêncio diante de tudo. E sim, não sei por que estou falando isso, mas sinto como se deveria ser sincera, comigo, com todo mundo, com o carinha da padaria que não entende o motivo de alguém tatuar qualquer coisa se transformando em pássaro.






Nesses últimos anos tentei de tudo, tentei não tentar, tentei desistir, voltar pra casa, sair de casa, encontrar uma casa, algum lugar pra chamar de meu. Tentei parar de sentir e de ser esse poço sem fundo de intensidade. Tentei ser prática, biscate e sapatão. Tentei ser homem, mulher, travesti e invisível. Tentei não ser, parar com essa paranóia que gente pseudo-cult tem de ser conhecer. Encontrei com gente de tudo que é tipo, que tem fetiches estranhos, comuns, anormais e banais. Vi gente sendo feliz vestida de rainha, cachorro, criança. Vi gente que só sentia tesão se fosse pisoteado, outros se fossem vendados e afins. Vi gente que queria ser pássaro, cachorro, astronauta. Vi história que me fez chorar, sentir raiva, nojo e até desespero. E no meio dessas histórias eu tinha, quase que por obrigação, encontrar ou escrever a minha.







E sem querer fui escrevendo a minha e percebi que muita gente escrevia comigo, até sem querer, sem perceber, sem notar o que aquilo, aquele ato de pegar a caneta e borrar a vida do outro que nesse caso era eu, significava. Encontrei quem me dava colo, tapas na cara pra acordar, dinheiro, comida e carinho. Encontrei também quem estava na contra-mão, mas cada dez pessoas correndo na contra-mão eu encontrava um pra me dar a mão e me arrastar pra frente.







E quando tudo parecia no lugar, decidido, definido. Tudo muda, tudo se perde. E nesse momento em que tudo parece dar errado, em que tudo dá errado fugir parece ser a única solução. É, desistir. Mesmo não parecendo nobre, honesto. Fugir é minha vontade, sair correndo em círculos até um vento mais forte decidir por mim. Muita preguiça, confesso. Mas do meio da fuga, tudo acontece.





Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer


E foi mais ou menos isso. Quando achei que tinha encontrado tudo que precisava, tudo se mostrou antigo. Mudei. Me mudaram. Acreditei que era livre, ou que existia um contrato com a liberdade, mas contratos precisam ser renovados.


Acho que poucas pessoas entendem de fato o que é isso pra mim, o que é mudar e mudar o caminho, os amigos e. Continuo perdida, parada e patética. Mas agora parece que tudo começa a ter um sentido, um foco, um motivo, um destino...ou qualquer coisa que me obrigue a continuar. Uma espécie de fé. É, fé. De pouco em pouco tudo parece voltar a ser meio mágico.


Não poderia deixar de agradecer quem me deu colo, abraço, carinho, broncas e broncas. Agradecer quem me abriu a casa, a família, o companheiro e o coração. Quem me abriu os olhos, os caminhos e a coragem. Coragem de perder o medo de tentar de novo.






Por isso, pelas cervejas divididas, os finais de semana compartilhados, os filmes, as brigas, as tequilas. Por isso e por muito mais. Eu possuo um apresso imenso por todos vocês.



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Clarice



A melhor forma de esquecer uma mulher

é transformando-a em literatura.






Já tive Ritas, Claúdias, Anas, Alines, mas Clarice foi minha dor mais profunda, minha saudade mais presente e meu desejo mais intenso.
Intensidade que se tornou meu vício, minha mania, meu tesão de viver.
Clarice era o abraço-de-olhos-fechados, aquele cheiro único onde o pescoço se transforma em ombro. Clarice era o soluço-seguido-de-engasgo no meio daquele choro bobo, era o rosto vermelho de vergonha durante uma declaração, era a minha raiva ao ver ela decorar a casa com os copos com água pela metade.
Clarice era a companhia das insônias, das tardes tediosas de domingo, dos filmes nacionais na segunda, do agosto-com-gosto-de-desgosto, de setembro, de vários outonos.
Clarice era o porto onde minha alma descançava, era minha espera e por esperar o tempo dar tempo para nosso amor acontecer...eu escrevia.

Grande é a força do hábito






Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada acabar com as ilusões. Principalmente esta de que agosto seria um mês mais apropriado para se fuder.




Cá entre nós, Deus não tira férias, ele vai te fuder em agosto, setembro, de janeiro à janeiro. E vai te fuder da forma mais clássica, te dando a esperança de que as coisas vão melhorar. E as coisas vão melhorar, depois que tudo, exatamente tudo, cada parte da sua vida, do seu dia, der errado. E quando finalmente um sorriso aparecer no seu rosto, Deus com sua alma generosa e paterna/materna (a confusão entre 'pai' e 'mãe' é porque não faço idéia do papel que essa cara desempenha) vai te lembrar que a vida é um ciclo e que tomar no cu é uma questão de tempo e paciência.




Então, se a vida não passa de uma ciranda de sentimentos que se sucedem, qual é a lógica dessa brincadeira?





Desse jogo de dados viciados que Deus joga em seu casino particular que somos, eu só sei que para atravessar agosto é preciso se lembrar de que em setembro você também não estará à salvo.



Continuamos inventando maneira melhores de nos matarmos!!

terça-feira, 11 de outubro de 2011


Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia aplaca, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura.



Sabe aquele momento antes do choque do corpo com o chão. Aquele último sopro de vida passando pelo pescoço causando um arrepio quente. Aquela última gota de ansiedade por dias melhores que não mais virão.
Sabe aquele sorriso triste de não ter conseguido sobreviver ao abismo?

Aconteceu.

Não negarei aquele escudo. Não mais. Não por fraqueza, mas por saber que não resistirei quando a tempestade voltar. Pior, me iludo acreditando esperançosa em uma volta, uma resposta, um caos. Mentira. Um carinho.
Essa é minha fraqueza, ter esperança. Uma esperança escondida, apertada, quase imperceptível. Esperança de encontrar um porto, um corpo, um norte. A velha bússola.

Esperança criada para mascarar a realidade dos fatos:
- Estou só, fodida, com um puta nó na garganta que ninguém vai des-dar.


Outra foto tirada por mim. Tô gostando disso. rsrs

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Das vantagens de ser bobo!


E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz!


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer.
Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo.
[...]
É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.



Foto minha, música do Los Hermanos e texto da Clarice.