
Certa vez me perguntaram qual era a cantada perfeita. E não soube responder. Porque só vinha Clarice em minha cabeça, nada de frases, de passos prontos de dança, noites planejadas de amor, nem declarações toscas, nem nada. Só Clarice me vinha à cabeça.
Clarice me tinha por motivos que eu mesmo desconhecia, era me descuidar e lá estava eu, jogado em sua cama e sem saber como lá fui parar. E saber disso pouco me importava, porque era bom aquilo, era boa a forma como Clarice dominava meus sentimentos, meus desejos e meu corpo.
Clarice me cortejava de uma forma encantadora, com sua forma despojada de me cantar e sorrir pra mim. Acho que era isso que me fazia apaixonado por ela. Mas nunca soube de fato em que momento Clarice me ganhava, se era com o ‘Te Amo’ no fim da frase, com o sorriso tímido a me ver, com as mãos que eram levadas ao rosto sempre que eu retribuía um elogio, com a cara fechada quando não respondia da forma que ela queria, com os olhos que eram o motivo da minha paz ou com o sentimento que ela tinha mim. Clarice me amava. Corajosa ela por isso, me amar não era tarefa fácil, às vezes nem eu conseguia tal proeza. Mas Clarice me amava e eu me desarmava todo quando ouvia sair de sua boca um ‘Eu te amo absurdamente’. Ah, nessa hora eu já não tinha proteção contra ela. O absurdamente naquele sotaque e naquela voz apressada de vergonha me deixava entregue e ela sabia disso, por isso repetia. Clarice me levaria pro inferno se quisesse só com essas palavras.
Clarice não precisava de formulas ou cantadas prontas pra me conquistar. Ou até usava desses artifícios, mas de uma forma que só ela sabia usar e me levar e me ter e me dar prazer. Clarice nunca me chamou pelo nome, só quando estava brava, fora isso se dirigia a mim como boy. E isso dava um charme todo especial a conquista diária que havia entre nós.
Clarice me conhecia como ninguém. Sabia todas minhas reações e eu nada podia fazer contra ela, ou a favor ou sei lá. Clarice sabia me levar como ninguém e eu a deixava fazer isso. Como era bom, como era gostoso ver Clarice me descobrindo.
Clarice sabia perfeitamente que quando eu mordia no canto da boca já estava louco de desejo por ela e por isso judiava, massacrava meu desejo me mostrando tudo que poderia fazer comigo, ou poderia nada fazer, porque Clarice não precisava fazer nada para me deixar com excitação.
Clarice me tirava a roupa sem falar nada, sem pedir, sem me tocar. Ela me tirava a roupa só com olhos, só com aquele desejo que havia naquele olhar atencioso pro meu corpo. Atenção que me levava pra cama, pro delírio e para o medo de viver sem aquilo, sem Clarice.
Com Clarice não havia nada perfeito, nem as noites, nem as comemorações, nem as conversas diárias e as brigas que sempre apareciam, nem as declarações e muito menos as cantadas. Com Clarice havia sinceridade, não perfeição. E isso nada garantia, nem felicidade, nem durabilidade, nem sexo. Porque com Clarice eu não tinha garantia de nada e isso me obrigava a amá-la todo dia e a deixar claro que naquele momento ela era minha cantada perfeita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário