segunda-feira, 24 de maio de 2010

Silêncio na casa do delírio!




Na casa do delírio minhas feridas ficavam expostas, na carne viva... Principalmente as mais frágeis. E o que me doía não era a poeira, a sujeira ou os dedos que chegavam até as feridas espelhadas pelo meu corpo. O que me doía era saber que era eu que tinha buscado com minhas mãos essa fragilidade toda, eu que tinha colocado essa dor toda em exposição e nessa hora o delírio sorrir. E cospe na minha cara todo verdade que tinha escondido debaixo da cadeira do banheiro e essa verdade cheira tão mal que me lembra liberdade, mesmo me deixando culpada por sentir isso.

Mas na verdade eu não sei o que estava sentido. Estaria eu sentindo alguma coisa? Sozinha, talvez. E a solidão também não dói, o que dói é saber que ela esta ali porque eu a convidei para a festa.

A casa do delírio está em completo silêncio, nem meus pensamentos ousam mudar de lugar. Os móveis estão calmos, como se estivessem no mundo dos sonhos. A televisão se encontra muda do teto, o relógio não ousa soltar nem um tic-tac dentro da geladeira velha e eu me sinto uma intrusa na casa do delírio. O sanitário continua com as flores, mas agora estão mortas, a cama de casal pendura na parede só anda desarrumada e o quarto com as suas cinco ou sete parede se encontra com as janelas fechadas e não sei mais se ainda estaria lá dentro a louca.

Estaria à casa cansada de mim? Estaria o delírio cansado do meu comodismo? Estaria eu cansada de mim? Sim, eu estou cansada de mim. Cansada desses conflitos, dessas carências insuportáveis, dessas horas sem fim de choro compulsivo, desses medos sem necessidade e desses amores impossíveis. Cansei de ser Stella, cansei de suas fragilidades, de seus fingimentos, de suas falsidades e de seus defeitos.

Enfim... Percebi que na casa do delírio eu tudo poderia ser, ou nada poderia ser. Bastava um desejo. E pronto. Eu não era mais eu, mesmo ainda sendo em parte, em corpo, carne... Não em alma. Nunca em alma!


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