sexta-feira, 28 de maio de 2010

Na casa do delírio: Pensamentos!



E me sinto engasgada. Como se algo tivesse ficado em minha garganta e não desejasse descer ou subir, tanto faz. Talvez sejam esses pensamentos, que me rodeiam a tempo inteiro, que não me deixam comer, dormir... Parar!

Na casa do delírio a refeição é outra. Aqui não se mata a fome, só aumenta a vontade de comer. Ele te deixa mais aflita, mais faminta, mais.

O difícil é encontrar do que se alimentar aqui, as panelas que iluminam a casa estão ocupadas demais e a luz ainda é um alimento que não consigo digerir. Os sentimentos se encontram todos dentro de uma garrafa térmica, para manter o frio dos bons e o calor dos ruins, ou apenas para guardar aqueles que não são tão desejados assim. O difícil de alimentar destes é separar o que você deseja. Ao se alimentar de um por engano, ou não, se alimenta do outro. Mas afinal, porque se alimentar?

Chega de carências, eu digo. E o delírio novamente aparece para me questionar dos meus questionamentos. E só sua presença me faz pensar que a carência é inevitável. Ou inevitável seja o desejo de ser carente.

Eu me sinto incomodada pela primeira vez com as mudanças de humor dos móveis. Que me olham de cara ruim por saberem que eu não sou como eles, que eu não sou tão boa assim. E me incomoda saber disso e mesmo assim ter que conviver com essa verdade. Mas seria isso mesmo verdade? O que seria verdade na casa do delírio? Acho pretensão minha querer definir isso.

O delírio ri do meu incomodo e percebe que estou quase explodindo, explodindo de fome, de vazio e ao mesmo tempo explodindo, transbordando de conflito. E ele ri, solta gargalhadas irônicas que ecoam pelas poucas paredes da casa grande e por dentro do meu corpo vazio, porque agora nem as dúvidas são suficiente para me preencher.

E o que de fato me preencheria? Seria possível esse preenchimento?

AAH. Sinto como se tudo que viesse de mim fosse falso e que agora ser eu fosse meu maior sacrifício. Não consigo nem escrever mais, tenho nojo das minhas palavras, dos meus sentimentos. Sinto que nada é meu e que tudo pode ir ao chão num piscar de olhos. E eu não pisco mais. Tenho medo de acordar e nada mais estar aqui, não que algum dia estivesse de fato. Na verdade meu medo é de acordar e não ter mais ilusões que sustentem minha falsa segurança. Por que até isso em mim é falso. Seria algo verdadeiro? Acho difícil. Não seria difícil algo ser verdadeiro, mas o difícil seria encontrar isso dentro de mim, são tantos labirintos, tantos becos sem saída e imundos buracos, que não faço idéia de onde a verdade se encontra aqui. Na verdade me perdi durante esses anos de convivência com esses animais, digo humano. Nem sei por que crítico sou tão animal quanto eles e talvez até mais por acreditar que não ser animal seria possível nesse mundinho de merda pós-moderna. E cadê o delírio?

A realidade assusta mais que a idéia de não ter um terreno no céu. É engraçado que quanto mais os anos passam mais coisas conseguimos vender, os filhos, a casa, a dignidade [isso existe mesmo?], o sexo, o prazer, a solidão e até o perdão. Os homens não possuem força nem para sustentar a culpa de um erro. Nem isso!

Os móveis estão em repouso. Será que meu conflito repousaria algum dia?

E vejo que o maior castigo não é perder um terreno no céu, mas não conseguir para de pensar, de respirar... De viver. Porque viver é inevitável e isso dói.

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