sábado, 15 de maio de 2010

Casa do delírio.


E tudo que faço é procurar um ponto seguro no quarto escuro, onde não se enxerga nada mais do que a solidão, única companheira em uma estrada estreita e recheada de conflitos entre a norma-l-idade e o delírio.

E nada me resta a não ser correr, correr, correr e implorar ao delírio para me aceitar em sua casa de desordem e intensidade, para fazer de meus dias confusos, para me preencher de conflitos e dúvidas, para me fazer mulher, para me fazer menina, para me fazer homem, para me fazer humana, para me fazer, para fazer, para... Cansei, para!

E o que resta? Era pra algo restar? O que seria resto? Alguém de resto se alimenta? Alguém, no fim, de mim se alimentaria? Não, eu não seria suficiente para matar a fome dos homens, minha carne não tem gosto e é recheada de nada, de vento, de pensamento, de pensar, de ar...

O que me atormenta não é a falta de respostas, mas a falta de perguntas, de perguntas certas, de pessoas certas ou só de pessoas. Ou só falta de falta, porque as pessoas são grandes demais e ocupam um espaço que não possuo para ceder. Ou não quero ceder!

O delírio me aceita em sua casa suja, com paredes feitas especialmente para pendurar as camas de casal, onde os desejosos de vida se deitam e dividem entre cinco ou sete paredes o prazer de inexistir. Os móveis guardam a função de confundir, mudam de lugar e forma como mudo de pensamento. O relógio de mesa está no lugar errado, se encontra dentro da geladeira e me pergunto se a geladeira seria o lugar dele ou estaria ali justamente para me questionar sobre o lugar do tempo. Mas seria eu digna de ser questionada na casa do delírio? O delírio teria casa? Ou a casa teria o delírio?

Sou levada a um quarto escuro e sem portas, vejo diante de uma vela uma mulher sentada, nua, com o longo cabelo desconcertado, com o ar de louca e tranqüila que ao notar minha presença me convida com uma voz sedutora e rouca a chegar mais perto, a ficar de frente pra ela, a encará-la. Eu, seduzida pela voz, pelo nu, pela luz... caminho até a louca e sua vela, e vejo um sorriso irônico entre os cabelos na face...

Ela, tranquilamente, levanta a cabeça, me encara com o sorriso irônico enquanto passa os dedos entre a chama da vela e com a outra mão segura em meu rosto e me puxa para si dizendo sorrindo, como se soletrasse: Prazer, meu nome é!

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