sexta-feira, 15 de abril de 2011


Ir embora foi uma das decisões mais difíceis que já tomei.

Partir é mais do que deixar uma casa, uma família, um conforto ou um amor. É se deixar um pouco pra trás.

Sair de casa aos 17 anos foi, no início, uma aventura, uma forma de afirmar pra mim e para os outros que ‘eu podia’.

Hoje, aos 20, tanta coisa mudou, aprendi tanta coisa e desaprendi tantas outras. Sim, esse é o natural da vida e não me tornei especial por tomar a decisão de ir embora.

Na verdade até hoje estou indo embora de casa, a cada dia que passo saio um pouco mais, coloco um pouco mais do corpo pra fora da janela e sinceramente, a vista é linda e assustadora.

O jovem demora pra entender a diferença entre sair de casa e romper laços, a diferença entre ser independente e ser indiferente. Eu demorei pra entender isso. Precisei sair de casa, brigar, bater o pé pra enxergar que tudo isso é inútil, pra entender que eu não precisava sair de casa pra ser alguém, pra entender que no final das contas o que sobra no peito é essa saudade de casa de mãe, de colo de vó e de conselhos de irmã mais velha.

E como eu tenho saudade disso tudo.

Saudade da minha irmã e da sua falta de paciência ao me explicar as coisas que eu tinha ânsia de viver, das vezes em que ela me dava conselhos sobre o futuro, conselhos que eu deveria ter seguido, mas a gente sempre quer aprender do pior modo, sozinho e de cara pro mundo.

Saudade de dormir no sofá da sala que não é mais duro e ver tv até dormir com o controle na mão, dormir até minha vó me acordar dizendo que o café está na mesa. Não sinto falta apenas no conforto da casa, mas de ter alguém pra me acordar, de ter alguma voz na casa a não ser a minha, de ter alguém pra dividir a mesa do café.

Hoje o café não tem mais o mesmo gosto e sinceramente, esse é o terceiro ano que não coloco mais a mesa do café. Porque eu não faço isso?

Porque quando a gente sai de casa tomar café sozinho é sinal de independência e depois que o tempo passa a gente vê o quão importante eram aquelas pessoas que você dividia a mesa.

Como tenho saudade de ter a mesa cheia, conversas e ‘me passa o pão.’. Ter a mesa vazia e ninguém pra me passar o pão deixou de ser liberdade pra ser solidão.

Engraçado é que tive que viver isso pra aprender, enquanto minha irmã já me alertava do que estava por vim. Lembro perfeitamente dela me avisando que sair de casa não era tão lindo como eu pensava e que era pra eu me dedicar mais, me empenhar mais no que eu desejava. Eu, jovem – digo, mais jovem – via aquilo como um drama dela, mais um dos dramas que eu passaria mais tarde.

Como este drama que irei olhar com um sorriso no rosto daqui algum tempo. Mas até este tempo chegar, me dou o direito de sentir saudade, me dou o direito de doer inteira.

E hoje viver me dói feito uma bofetada.

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