sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sexta-Cesta de Nostalgia


Essa manhã tem cheiro de 1997, onde minhas esperanças ainda eram suficientes para me fazer persistente.

Nessa manhã vejo perfeitamente minha merendeira do Garfield, que sempre apertava meus dedos, recheada com uma maça que sempre era trocada por doces, um suco de laranja e mirabel.

Vejo meu despertador laranja, que me obrigava a pular do canto da minha avó para ir à padaria enquanto ela fazia o café e esquentava o leite. Vejo-me sentada no colo dela enquanto ela fazia aquele rabo-de-cavalo que só seria desfeito antes de dormir, assistindo “Pequenas-empressas-Grandes-negócios” para não doer tanto a testa e a nuca da força que ela fazia para prender tanto cabelo num espaço tão pequeno.

Vejo o uniforme branco e vermelho, que no fim da tarde estaria marrom e vermelho, o tênis que me incomodava, o escorregador que eu tinha medo e massinha amarela, que era minha comida preferida.



Na verdade, minha comida preferida era um biscoito diferente que só minha irmã mais velha tinha pra me dar e só nas tardes de pique-esconde ou pega-ladrão ou nas noites em que ela ia pra esquina ficar com o vizinho e ela precisava do meu silêncio. Era meu preço e era o que ela tinha pra me pagar, aquele biscoito estranho. Que só mais tarde viria a descobrir que era ração do Rex, cachorro da Tia Maria. Não era possível saber quem gostava mais, se era eu ou o Rex.

Vejo nitidamente Andressa, minha prima, na verdade não a vejo nitidamente, vejo nossas risadas descontroladas e intermináveis que incomodava toda a família por ninguém ver motivo para tanto felicidade. Vejo os cinco amigos imaginários que ela tinha, baba-bebe-bibi-bobo-bubu, eu sei que pra nome ela não era criativa, mas até hoje me surpreendo ao lembrar a aparência que ela deu a eles e da forma drástica que todos morreram, dois anos depois de nascerem. Tenho a leve impressão que ela foi a responsável por Jogos Mortais;

Baba o primeiro amigo a ser inventado, não tinha a cabeça, se não estou enganada claro. Bebe não tinha o braço, Bibi era feio-quase-deformado, Bobo era manco, Bubu não me lembro bem. Lembro-me bem que eu morria de ciúmes quando ela passava horas conversando com eles por telefone.



Agora acabei de lembrar da Jéssica, prima-vizinha-parceira-de-crime, que desde criança me tirava e me acompanhava nas “artes”. Jéssica sempre foi pervertida, quando criança dava birra pra ficar com o Ken e enquanto ganhávamos bala ela já ganhava pulseira do namoradinho, o “Cabrito” pra ser mais exata, o Cabrito foi seu primeiro namorado. Ele era filho da professora.

Jéssica e eu andávamos sempre juntas, nossos brinquedos eram iguais, nossa primeira bicicleta, herança das nossas irmãs mais velhas, também eram iguais. Nossa preguiça de ir pra escola, nosso atraso, nossas provas, nossas notas e nossos ideias.

Jéssica, Andressa e eu éramos, e acho que ainda somos o terror da família e da cidade. Quando não estávamos comendo ou rindo descontroladamente e sem motivo estávamos falando alguma besteira que provavelmente chocaria alguma amiga nossa.

Sobre ri Fernanda, outra parceira-de-crime, é a melhor no assunto. É capaz de mexer todo o corpo, perder o ar, chorar de tanto ri, sem fazer nenhum barulho se quer. Como também é capaz de quebrar o braço ao tropeçar no seu próprio pé, provável acidente causado pelo descontrole ao andar.

A Lídia, a-doida-da-turma, era responsável por tardes e tardes correndo sobre a cama do Hisnupe, cachorro da minha irmã mais velha. Responsável por um short todo assinado e com um pênis desenhado com corretivo na parte de trás do short, naquela época era febre desenhar pênis em qualquer lugar. Responsável também por um corte, feito por estilete novo, no pulso direito e eu por um corte no dedão esquerdo dela, conseqüência de uma brincadeira de apontar lápis.



Hoje, 13 anos depois, as coisas mudaram.

Perdi no tempo minha merendeira, parei de comer massinha e ração, meu despertador laranja quebrou. Perdi o medo do escorregador. Parei de dormir com minha avó, ela não amarra mais meu cabelo e nem faz café pra mim pela manhã. Minha irmã mais velha não precisa mais me comprar com rações e sorvetes-de-um-real-que-nem-existem-mais. Os amigos imaginários da Andressa morreram. O Ken da Jéssica não existe mais. A Fernanda anda mais equilibrada, até anda de salto. A Lídia-Rebelde deixou de ser Lídia, pra ser Mãe-do-Henrique. O mais novo membro do bando.

Na verdade, as coisas não mudaram nada. Só as situações.

Sempre que dá corro pra casa da minha mãe e pro canto da minha avó. Eu e a Andressa continuamos rindo descontroladamente e sem motivo algum. Jéssica continua pervertida, lesada e engraçada ao último. E nós três juntas, Jéssica-Andressa-e-Eu, ainda somos o terror da família. Trocamos o atraso do horário por “só-volto-amanhã-mãe” e o “um-sorvete-de-morango” pra “três-doses-de-tequila-moço-e-até-a-borda-por-favor”.

A Fernanda continua ficando ser ar, vermelha e tremendo cada músculo quando ri e ainda sem fazer nenhum barulho. Ela continua desajeitada, desastrada e desequilibrada como sempre. Lídia continuou me acompanhando e eu acompanhando ela, trocamos as tarde pela noite, o estilete pela “cachaça”, as camas por mesa/esquina de bar. Na primeira pinga ela tava, no primeiro namoro ela tava, na primeira mentira bem planejada ela tava. Continuamos contra o sistema, né Lídia?

13 anos depois, continuamos.










3 comentários:

  1. ai mtas palavras nessas horas seriam desnecessárias,é parece q foi ontem que eu ria ao seu lado e tremia a fila toda e não saia um barulho se quer, bons tempos rs'...te amO sua menina maligna!!!bjão eternamente Poia(Fêh)

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  2. Contagiou e continua contagiando, Menina Arianny.

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