
Clarice fingia ter paciência de aturar minhas crises de ciúmes sem cabimento. Mas eu sabia que ninguém é tão nosso, que não possa ser de mais ninguém. E Clarice era de mais alguém. Era dela mesmo, dos amigos que sempre reprovei, dos parentes insuportáveis, das pessoas que eu sabia que ela pertencia, das que eu não sabia e talvez por último minha. Na verdade o fato dela ser minha era mais uma vontade de me sentir seguro de tê-la ao meu lado pra sempre do que um fato mesmo.
Mas eu queria que Clarice fosse minha.
Clarice não acreditava nos mesmos ideais que eu e por isso não acreditava na eternidade. Eu também não acreditava, mas com ela era preciso. Era preciso acreditar que amores-duram-para-sempre-e-com-a-mesma-intensidade para poder me enganar pensando que Clarice estaria do meu lado na manhã seguinte. E eu repetia essa mentira comigo...
Ela-vai-estar-comigo-ela-vai-estar-comigo-ela-vai-estar-comigo-ela-vai-estar-comigo-ela-vai-estar-comigo-ela-vai... Eu repetia na frente do espelho velho com a cara cansada e com os olhos inchados de tanto chorar e implorar para que Clarice não mais brigasse comigo.
Mas ela não me ouvia, na verdade ela nunca me ouviu, sempre fez o que quis da sua vida, das suas escolhas, do meu dinheiro, da minha vida que era inteira dela. Clarice não me ouvia, brigava pela toalha molhada em cima da cama, pela escova de dente na pia, as cuecas no chão, as meias por lavar, os discos fora de ordem, pelo atraso das ligações, pelas ligações adiantadas Clarice brigava. Eu chegava tarde e ela estava lá, bravamente linda sentada no sofá velho do apartamento pequeno, e brigava. Brigava porque eu era distraído, mas Clarice não fazia idéia de como eu prestava atenção nela e em suas manias irritantemente perfeitas, de passar a mão delicadamente pelo lençol branco da cama antes de deitar, de mover a alça da xícara do lado esquerdo para o direito sem tirar os olhos do jornal, que lia todas as manhãs.
Clarice gostava de ler, coisa que eu mal sabia fazer e ela fazia perfeitamente. Devorava livros como eu devorava os cigarros. Praticamente na mesma velocidade, com a mesma vontade e o mesmo gosto pelo vicio. Clarice era apaixonada por Caio F. eu, por musica barata e com isso ficava nítida a diferença entre eu e ela, isso me empurrava cada vez mais pra fora da vida de Clarice.
E Clarice não era a mesma, não bebia como antes e além de controlada queria me controlar e eu me deixava ser controlado por Clarice. Confesso que não me deixava ser levado de bom grado, mas meu medo de perdê-la era maior que qualquer vício qualquer vontade de ser ‘livre’, porque era bom ser preso em Clarice, e eu era.
Clarice era realista e calculava todos os passos que ia dar e eu apenas ia, não olhava onde pisava e era sugado por buracos infinitos de ansiedade e angustia por mais uma vez ter feito a escolha errada. Até que Clarice me pegou pelas mãos e me levou em seus passos, e eu fui. Andei na sombra de Clarice ate confundir quem eu era e quem ela era, porque ela vivia dentro de mim, e vive. E queria Clarice ali, dentro de mim, querer esse que não era compartilhado e eu sabia que Clarice não queria isso. Na verdade tinha certeza, só fingia não saber que Clarice queria sair de dentro de mim e descansar as pernas frouxas de me carregar. Eu era pesado demais para Clarice e ela leve demais pra mim, ao ponto de não conseguir segura-la entre meus dedos finos e fracos do vicio do álcool. Eu era fraco, diferente de Clarice que continuava firme em seu destino, porque ela tinha um e nesse eu não poderia acompanhar seus passos e silenciosamente perguntava entre o ‘eu te amo’ e o ‘boa noite, amor’ com que pernas eu deveria seguir?
E eu não sabia a resposta, nem ela. Por isso continuava a ser um peso para Clarice, e ela a direção pra mim.
Mas eu queria que Clarice fosse minha.
Clarice não acreditava nos mesmos ideais que eu e por isso não acreditava na eternidade. Eu também não acreditava, mas com ela era preciso. Era preciso acreditar que amores-duram-para-sempre-e-com-a-mesma-intensidade para poder me enganar pensando que Clarice estaria do meu lado na manhã seguinte. E eu repetia essa mentira comigo...
Ela-vai-estar-comigo-ela-vai-estar-comigo-ela-vai-estar-comigo-ela-vai-estar-comigo-ela-vai-estar-comigo-ela-vai... Eu repetia na frente do espelho velho com a cara cansada e com os olhos inchados de tanto chorar e implorar para que Clarice não mais brigasse comigo.
Mas ela não me ouvia, na verdade ela nunca me ouviu, sempre fez o que quis da sua vida, das suas escolhas, do meu dinheiro, da minha vida que era inteira dela. Clarice não me ouvia, brigava pela toalha molhada em cima da cama, pela escova de dente na pia, as cuecas no chão, as meias por lavar, os discos fora de ordem, pelo atraso das ligações, pelas ligações adiantadas Clarice brigava. Eu chegava tarde e ela estava lá, bravamente linda sentada no sofá velho do apartamento pequeno, e brigava. Brigava porque eu era distraído, mas Clarice não fazia idéia de como eu prestava atenção nela e em suas manias irritantemente perfeitas, de passar a mão delicadamente pelo lençol branco da cama antes de deitar, de mover a alça da xícara do lado esquerdo para o direito sem tirar os olhos do jornal, que lia todas as manhãs.
Clarice gostava de ler, coisa que eu mal sabia fazer e ela fazia perfeitamente. Devorava livros como eu devorava os cigarros. Praticamente na mesma velocidade, com a mesma vontade e o mesmo gosto pelo vicio. Clarice era apaixonada por Caio F. eu, por musica barata e com isso ficava nítida a diferença entre eu e ela, isso me empurrava cada vez mais pra fora da vida de Clarice.
E Clarice não era a mesma, não bebia como antes e além de controlada queria me controlar e eu me deixava ser controlado por Clarice. Confesso que não me deixava ser levado de bom grado, mas meu medo de perdê-la era maior que qualquer vício qualquer vontade de ser ‘livre’, porque era bom ser preso em Clarice, e eu era.
Clarice era realista e calculava todos os passos que ia dar e eu apenas ia, não olhava onde pisava e era sugado por buracos infinitos de ansiedade e angustia por mais uma vez ter feito a escolha errada. Até que Clarice me pegou pelas mãos e me levou em seus passos, e eu fui. Andei na sombra de Clarice ate confundir quem eu era e quem ela era, porque ela vivia dentro de mim, e vive. E queria Clarice ali, dentro de mim, querer esse que não era compartilhado e eu sabia que Clarice não queria isso. Na verdade tinha certeza, só fingia não saber que Clarice queria sair de dentro de mim e descansar as pernas frouxas de me carregar. Eu era pesado demais para Clarice e ela leve demais pra mim, ao ponto de não conseguir segura-la entre meus dedos finos e fracos do vicio do álcool. Eu era fraco, diferente de Clarice que continuava firme em seu destino, porque ela tinha um e nesse eu não poderia acompanhar seus passos e silenciosamente perguntava entre o ‘eu te amo’ e o ‘boa noite, amor’ com que pernas eu deveria seguir?
E eu não sabia a resposta, nem ela. Por isso continuava a ser um peso para Clarice, e ela a direção pra mim.
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